[ABSOLUTA CERTEZA] Analytics sem governança de dados é uma utopia


Fonte: CIO



“O dado é o novo combustível da economia”. Esta foi uma das frases mais ditas em congressos e eventos dos quais participei nos últimos anos.

Movidas por este “clichê”, várias organizações iniciaram projetos voltados à implantação de novas tecnologias, muitas ligadas diretamente ao consumo de dados, tais como os projetos de Big Data e Analytics.  De forma geral, se olharmos apenas para o aspecto tecnológico, podemos considerar que quase a totalidade desses projetos foram implementados de forma satisfatória. Contudo, não posso afirmar o mesmo se estendermos a avaliação para o aspecto funcional e o cumprimento do retorno esperado em cada iniciativa.

Muitas empresas ainda não conseguem extrair o real valor dos seus dados. Tudo isto porque insistem em ignorar as condições reais dos mesmos e continuam a alimentar seus repositórios com dados desconhecidos, conflitantes, duplicados, sem propósito, com um grau muito baixo de confiabilidade. Costumo dizer que essas empresas vivem o fenômeno da “data obesidade”. Possuem dados com má qualidade em excesso e, em casos mais extremos, não têm consciência dos prejuízos que tais comportamentos podem causar às organizações.

O resultado é que, após os primeiros meses das implantações dos projetos, as iniciativas passam a ser questionadas. Aquele projeto que todos imaginavam que seria um sucesso, do dia para a noite, tornou-se um tremendo abacaxi na empresa.  

Em vez de descobrirem insights relevantes para o negócio, Cientistas de Dados passam boa parte do tempo atuando em atividades operacionais, buscando identificar regras, definições e significados dos conceitos de dados, efetuando cargas e corrigindo dados inconsistentes. Já os Arquitetos de Dados perdem seu tempo apagando incêndios, corrigindo programas de carga, em vez de promover o alinhamento dos dados com novas tecnologias e a estratégia corporativa. Com o passar do tempo, esses profissionais se tornam caros para o trabalho realizado e são substituídos gradativamente por Analistas de Dados, dedicados integralmente às atividades operacionais.

Mas afinal, o que poderia ter evitado este cenário tão assustador? Por que algumas empresas conseguiram ter sucesso em projetos de Big Data e Analytics e outras não?

Como o próprio título do artigo sugere, não há como ter sucesso em projetos de Analytics sem um Programa de Governança de Dados em operação.  No entanto, quero deixar claro que a Governança de Dados não é a única “bala de prata” que irá resolver de uma única vez todos os problemas com os dados em uma empresa.

Desta forma, sinto-me mais confortável em afirmar que a Governança de Dados no fundo apoia a transformação dos dados em sabedoria corporativa. Ou seja, ela é fundamental, porém deve caminhar em conjunto com as novas tecnologias, dentro de um ambiente cultural favorável à inovação.
Um programa desta magnitude é responsável pela orquestração das pessoas e ações necessárias para que os dados estejam aptos às necessidades estratégicas de cada organização. Colocado desta forma, a resolução do problema parece bem simples, entretanto, este entendimento ainda não é consensual.
Apesar do discurso, as pessoas possuem conhecimentos, prioridades e expectativas diferentes em relação ao retorno que cada nova tecnologia traz. A ilusão de que uma nova tecnologia, por si só, é capaz de resolver problemas crônicos dos dados das empresas ainda seduz boa parte dos profissionais.

Um ponto interessante a ser considerado nesta análise é que muitos profissionais já vivenciaram a evolução de algumas tecnologias no passado. Ou seja, já sentiram na pele os efeitos da má qualidade em seus projetos, porém alguns ainda colocam em um segundo plano a necessidade de uma governança mais efetiva sobre os dados.

Para muitos o termo “Governança de Dados” remete a conceitos ligados a controles demasiadamente lentos, custosos e desnecessários. Acredito que este preconceito surgiu a partir das atuações burocráticas de algumas áreas de Administração de Dados no passado e mais recentemente, de alguns modelos de Governança de Dados, implementados de forma extremamente engessada, sem levar em conta os recursos disponíveis, a cultura e os objetivos estratégicos de cada organização.

Infelizmente estes pensamentos afetam quaisquer iniciativas que visam melhorar a maturidade das empresas em relação a governança dos seus dados. Contudo, o fato é que se as empresas não mudarem radicalmente a forma como lidam com a governança dos seus dados, irão caminhar a passos largos para sua morte ou, no melhor dos cenários, em uma perda considerável de mercado.

Como reverter este cenário?Considerando que a maioria das empresas já possui iniciativas para adoção de novas tecnologias em andamento, o Programa de Governança de Dados deve ser baseado em cima dos três princípios a seguir:

Alinhamento estratégico: Engana-se quem acha que a Governança de Dados atua somente no patamar das normas e dos padrões ou ainda através de controles e permissões de acesso. Na verdade, a Governança de Dados deve atuar principalmente com uma visão mais apurada sobre os dados estratégicos da empresa, definindo-os e analisando os processos que produzem e se abastecem desses dados. Um Programa de Governança de Dados deve estar alinhado com o mapa estratégico da organização e a gestão deve priorizar os dados que contribuem diretamente para o cumprimento dos objetivos estabelecidos pela alta direção.

Agilidade: Não há mais espaço para Programas de Governança de Dados com metodologias extremamente extensas, ações de melhoria implementadas através de grandes projetos, vários papéis no ecossistema e evoluções baseadas em “receitas de bolo”.  Para poder acompanhar o ritmo acelerado das mudanças, a Governança de Dados deverá ser mais objetiva, implementar melhorias através de quick wins, focar no que é mais importante e viável para cada momento da empresa. Vale destacar que uma Governança de Dados ágil não pula etapas e não compromete a qualidade do trabalho que é esperado.

A utilização de práticas ágeis colabora bastante na transição do tradicional para o ágil. Além disso, o domínio dos frameworks de mercado, é fundamental para que os profissionais possam filtrar e priorizar as práticas recomendadas por essas referências.

Inovação: Sem dúvida é o princípio mais importante, pois comprova de fato a necessidade da Governança de Dados em qualquer organização. Para ser inovadora a Governança de Dados deve ser capaz de cumprir as seguintes etapas:

·  Identificar as oportunidades ou problemas com os dados que até então nunca eram discutidos;
·  Indicar formas de resolução para as oportunidades e problemas identificados;
·  Atuar como estrutura facilitadora, orquestrando todas as partes envolvidas durante a implementação das inovações;
·  Medir e monitorar os resultados obtidos com as inovações implementadas.

Quando a Governança de Dados resolve problemas ou implanta oportunidades que até então eram esquecidas ou desconhecidas, ela está contribuindo para sustentar um ambiente de inovação orientado a dados.

Além de estabelecerem uma visão mais agradável sobre a Governança de Dados nas organizações, os três princípios destacados tornam o Programa de Governança de Dados mais simples, flexível e abrangente. Acompanhar o ritmo das novas mudanças a partir de agora, no que tange a Governança de Dados, não será mais uma dificuldade.

(*) Bergson Lopes é vice-presidente do Capítulo Brasileiro da Data Management Association (DAMA Brasil), CEO da BLR DATA e autor do livro Gestão e Governança de Dados

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Sobre Grimaldo Oliveira

Mestre pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Curso de Mestrado Profissional Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC) com o projeto “GESMOODLE – Ferramenta de acompanhamento do aluno de graduação, no ambiente virtual de aprendizagem(MOODLE), no contexto da UNEB“. Possui também Especialização em Análise de Sistemas pela Faculdade Visconde de Cairu e Bacharelado em Estatística pela Universidade Federal da Bahia. Atua profissionalmente como consultor há mais de 15 anos nas áreas de Data Warehouse, Mineração de Dados, Ferramentas de Tomada de Decisão e Estatística. Atualmente é editor do blog BI com Vatapá. Livro: BI COMO DEVE SER - www.bicomodeveser.com.br

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